Nos últimos anos, as críticas ao sistema agroalimentar dominante no Brasil levaram à emergência de sistemas alimentares alternativos. O papel dos atores gastronômicos nesses sistemas começa a ser tema de interesse em pesquisas e na literatura brasileira. Contudo, os efeitos das práticas e inovações implementadas por esses atores gastronômicos nas mudanças nos sistemas alimentares, particularmente nos contextos urbanos, foram pouco estudados. Este artigo busca compreender como as relações existentes entre os restaurantes de Brasília e produtores locais têm contribuído para a consolidação de sistemas alimentares urbanos alternativos. Para isso foi realizada uma pesquisa qualitativa, com entrevistas semiestruturadas e uma oficina participativa com os atores ligados aos restaurantes, entre eles agricultores, intermediários comerciais, chefs de cozinha e representantes do poder público. Os restaurantes, com seus respectivos chefs de cozinha, atendiam a pelo menos um dentre dois critérios de seleção: uso de ingredientes da sociobiodiversidade do Cerrado e/ou de agricultores familiares locais no seu cardápio, e participação em projetos ambientais. Os principais apontamentos dessa contribuição estão relacionados à percepção de novas iniciativas desencadeadas por alguns desses restaurantes, com a agregação de outros serviços como educação alimentar, realização de oficinas de formação em alimentação sustentável, funcionamento como ponto de encontro de co-produtores de comunidades que sustentam a agricultura (CSA), ou como pontos de venda de produtos da agricultura familiar e da sociobiodiversidade. Essas propostas podem estimular a adesão de outros chefs e restaurantes, contribuindo para o estabelecimento de sistemas alimentares mais sustentáveis.